quinta-feira, 9 de setembro de 2021
Ser ínfimo
🦋Na tentativa de nos livrar da sufocante sina de ser o que já está estabelecido e é imposto por um coletivo, criamos mais gaiolas para dizer: "a este lugar não pertenço, pertenço a este! Sou assim e não assado!"
🦋Como rejeitar ou negar um lugar que aprisiona criando outras grades para nós mesmos?
🦋Basta-me as semelhanças e nesta me espalho vendo os contrastes, celebrando a diversidade.
🦋Não, eu não sou o que me dizem para ser; seja ontem ou hoje, sempre serei eu mesma, uma estreia da vida. Uma novidade jamais encaixada em qualquer fórmula que me descreva. Um mistério a ser acolhido em suas perguntas sem respostas. Sou um "não sei" gigante, para mim e para fora e vibro em minha incompletude. Ser inteira é também ser falta e nisso coroa-se a plenitude.
🦋Podem lançar traços, riscar passos e dizer que sou desse ou daquele jeito, segundo o gênero, a forma ou identidade. Podem e querem nos encaixar porque sofremos de "falta". Queremos cordas para nos agarrar e nos amordaçamos, nos enredamos formando pesos que nos afundam, quando não nos afogam.
🦋Contudo, nesse mergulho vou na maleabilidade das ondas ou na fluidez das gotas, mas sei que tantos outros gostam mesmo é das vagas, ondas altas. E como não sentir que é disso que se compõe o mar?
🦋Por isso, contrario e desdenho das grades desenhadas por meus próprios punhos; me desfaço de todos os desenhos traçados, desmancho, apago, desmonto mesmo e com isso, faço adubo ao que de mim floresce.
🦋Não, não sou rebelde e sou, não trago os punhos a mostra e também o faço, não calejo meus pés para firmar meu passo como verdade, mas também sei que é verdade. Tenho ciência desse caminho que apenas me cabe e nele cabe o ir e vir, o criar e o "descriar", refazer e trazer de volta com outra cara. Remontar-se em novo o tão antigo. Sou o direito que vês e o avesso que se cala. Tenho palavras tortas que mentem e se desmente para que saibam do disforme e da concretude da forma.
🦋As grades são invenções nossas para suprir a falta que não sustentamos por sermos tão pequenos e de olhos famintos. Quem dera pudéssemos trazer delas, as asas que se calam e no pequeno crescermos em real tamanho.
🦋Neste mundo, não é possível ser pouco, é preciso ser ínfimo, minúsculo, lá embaixo onde diminuindo cada vez mais encontramo-nos inteiros.🦋
🌹Kátia de Souza - 04/09/2021___✍️
Imagem via Google, desconheço o autor
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