Imaginação ativa (visão anímica)

Visão anímica 




💫Bem, o trabalho com imaginação ativa, deu-se em continuidade, porém, como não somos lineares, nada é igual ou permanece da mesma forma. E seguindo a fluidez da alma que somos, vou deixar aqui um relato de um dos momentos com imaginação ativa, mais recente. E nesse agora, também altero este nome: "imaginação ativa", para "visão anímica" - para mim, dá um teor mais íntimo e da real integralidade que somos. Até porque "Imaginação" para mim, é uma palavra que inspira um sentido meio que desgastado nesses últimos tempo e não faz jus àquilo que de fato se vive nesses momentos

💫No último dia 18 (mês de maio) e não por coincidência, também meu aniversário, fui para meditação como de costume antes do trabalho da noite em Céu e Raiz. E nisso, colocamos um áudio que gosto muito, do grupo Anilah para relaxarmos e então, se deu a visão:

"Eu estava caminhando por uma estrada de terra e cercada por árvores muito altas, um lugar agradável, sereno. Na minha frente, caminhava um tigre muito grande, ele ia a uma certa distância, como se guiasse o caminho e na presença do mesmo, me sentia segura e confiante. Via que íamos na direção de uma caverna logo a frente, entrada bem alta e larga; entramos na caverna; senti a escuridão me abraçar, um abraço quente, aconchegante até, mas com um certo aperto que não nos deixa muito livres ou confortáveis ao movimento; não via mais o tigre, mas sentia que ele estava lá, logo na minha frente, tudo estava escuro, nada via, mas continuei caminhando, sabia que tinha que seguir em frente. Logo a frente, começo a ver uma fresta de luz e então, vejo o tigre passar por aquela fresta, espremendo seu corpo flexível; eu então, passo pela fresta/fenda da caverna para a luz; vejo então, que saímos num caminho também de terra, como o anterior, porém, percebia que era um caminho acima daquele. O tigre me aguarda sair da caverna e sentado, permanece logo a frente. Coloco-me do lado dele e vejo o quanto o mesmo é enorme, batendo acima da minha cintura e muito forte; coloco minha mão de forma suave sobre ele, como que o abraçando e então, ele se põe a caminhar; sinto um respeito enorme por aquele animal. Ele anda por aquele caminho a minha frente, como antes e então, vejo mais uma vez algo logo a frente, e quando vamos nos aproximando, percebo que é uma montanha, e nela está emoldurado algo, uma estrutura enorme como se fosse um portal e ao mesmo tempo um adorno de cabeça dos povos antigos (o que me vem a mente são os Maia ou Incas); não há uma entrada e onde seria a passagem ou porta de entrada, é rocha, da montanha. O tigre senta-se a frente dessa estrutura, não muito próximo e eu sinto que tenho que subir a montanha; então, tento escalar a estrutura e subo até determinado ponto, no ápice da estrutura, mas não consigo ir até o cume da montanha. Então, é aí que desço e vejo o tigre se direcionar para a lateral da montanha, por um caminho estreito que vai subindo e chega do lado oposto na montanha e então, sigo-o e assim, subimos de forma muito fácil e tranquila, aquilo que antes, sentia ser algo que nos exigiria esforço.

 Chegamos no topo da montanha e ali havia uma espécie de pedra nada regular, grande e me inspirou que era um altar. Ficamos ali, eu e o tigre contemplando a paisagem, os caminhos e as árvores, de lá de cima, o lugar era vasto, amplo e o ar fresco e muito sereno. Nisso, vejo um pássaro vindo em nossa direção, saindo de um aglomerado de árvores logo a frente de nós, quando o pássaro chega mais próximo, vejo que é uma águia e então, a mesma pousa na rocha ali perto de nós; viro-me para ficar de frente à águia e então, é quando me sinto, fundindo-me com ela e me transformo nela; e então (eu e ela) alço voo pelo espaço vazio e contemplo o que contemplava antes, mas agora em voo, sinto um certo frescor no estômago, como aqueles de quando estamos nas alturas, mas não sinto medo, sinto-me livre, sinto o vento passando pelas asas, vejo alguns dos caminhos com detalhes lá de cima e ainda vejo outras formações de montanhas ao redor; a visão é ampla, vasta e ao mesmo tempo sabendo o que olhar e para onde olhar. 

Retorno a rocha ali na montanha e então eu "saio" da águia e olho para o tigre e nisso, fundo-me com ele, sou o tigre agora; então, como tigre caminho como se estivesse indo ao lado oposto ali da paisagem que vi como águia; sento diante das árvores que formavam uma espécie de bosque, ali atrás; então parece que meus olhos e meus ouvidos se afiam e vejo por entre as árvores algo se movendo, movimentos os mais minúsculos, eu vejo e sei que há algo ou algum animal ali, mas apenas observo e não vejo nitidamente o que é; ouço também o vento nas folhas das árvores, tudo me parece muito audível, qualquer movimento não apenas vejo, mas escuto nitidamente; então a águia que nos espera ali na rocha, pia. Sinto, como se a orelha do tigre, que é a minha orelha nesse momento, se volta para a águia, atrás de nós e então, caminho (como tigre) na direção de onde a águia está. E chegando ali, volto a ser eu mesma ou me desprendo do tigre. E nisso, vejo sair de onde a águia saíra antes, um Índio, parecia um Índio americano, usando as vestes típicas dos mesmos; ele está na posição de lótus (pernas dobradas, sentado) e parece que há algo nas mãos dele que gira (parece aquelas roldanas para argila, mas não é) e gira muito rápido e tem algo ao centro da roldana como uma estrutura se moldando e circular, mas não consigo distinguir bem o que é. 

Da mesma forma que foi com a águia e o tigre, me transformo no Índio e sinto aquele objeto rodando em minhas mãos, no centro de minhas mãos, girando muito rápido e eu vendo aquela estrutura central se formando como num cilindro girando, mas não sei direito o que é. Rapidamente, me desprendo e  volto a ser eu mesma. E depois disso, ali no alto da montanha, ainda na presença da águia e do índio, vejo o tigre indo para o caminho estreito ao lado da montanha e sinto que é hora de voltar e então, eu o sigo. E percebo que o mesmo está me levando pelo mesmo caminho que viemos, passando por todos os espaços de antes, inclusive a caverna e saindo no caminho inicial." 

💫Retorno a consciência de onde estou e do meu corpo e percebo que tinha se passado 45 minutos, ali no quarto de meditação, mas não senti o tempo passar, estive imóvel, meus braços estavam dormentes até, porque não me mexi em nada. A respiração, parecia ter parado e como num soluço ou golpe de ar, retomo a respiração - parecia que estava aprendendo a respirar de novo, enfim. 

💫É importante dizer que a fusão com a águia eu senti, como se minhas células fosse adentrando a  mesma, bem devagar e sinto a fusão, nos detalhes; com o tigre não foi assim, foi um pouco mais rápido, acho; e com o Índio ainda mais rápido, tanto a fusão como o desprendimento, teve esse detalhe do tempo e sensação.

💫Sinto que o evento tem a ver com um processo ou algo sobre iniciação, renascimento e nisso, acredito que esteja relacionado, o fato de eu estar fazendo aniversário (início, novo ano); além disso sinto que há muito de coletivo, do momento atual - as questões mentais sendo transformadas(adorno de cabeça dos povos antigos, máscaras), nossas crenças e ideias, nossa conduta diante daquilo que acreditamos com aquilo que negligenciamos dentro de nós e como seria mais fácil de compreender e lidar com certas experiências se acolhermos esse "dentro" com maior frequência (caminho estreito indicado pelo tigre X eu escalando a estrutura). Me remete a alguma coisa relacionada ao sol (tigre, estrutura na montanha) e nisso sei do ego, das questões mentais sendo expostas e transmutando-se; o altar, a águia entre outros elementos ligados a questão sagrada e espiritual do ser, nos permitindo a elevação ou ver as coisas por outro prisma, acima e não identificados com tudo. Enfim, há nisso muito do inconsciente pessoal, mas também muito do coletivo e que pode nos levar a profundas interpretações. E assim deixo para quem sentir de olhar a si mesmo e encontrar em si, também, alguns aspectos, que assim seja. Abaixo, deixo o desenho que fiz da estrutura na montanha. Para mim, um lindo e belo presente do que sinto ser o cosmos(alma em nós). 
Gratidão por você estar aqui. 


desenho da estrutura na montanha - visão anímica em 18-05-2020




Na imagem: fotografia que desconheço o autor, se souberem, agradeço.


O Pavão

💫Eu durmo, normalmente na madrugada, e na madrugada de 17-10-2019 para o dia 18-10-2019, ao deitar, eu visualizei um pavão de calda aberta e este pavão, estava no galinheiro que tem aqui em casa, nos fundos do quintal que é do dono da casa (Sr. Julio - um homem tranquilo, aparentemente paciente e calmo, muito simples e muito "da paz"). 

💫Antes da visualização, nesse mesmo dia ou no dia anterior (não lembro ao certo) eu li um artigo de Jung falando da imaginação ativa e que o mesmo passava pela experiência e conversava com suas personagens da “fantasia”. E por isso, resolvi conversar com o pavão, pois, eu interajo com as personagens da minha imaginação ativa, mas nunca havia interagido com os animais dessas fantasias, sempre era com as pessoas que aparecem na mesma. Ao me deitar sempre aparecem algumas imagens: pessoas, locais diferentes do que conheço, animais, enfim. Porém, minha interação sempre foi de passear pelos locais, explorar cada detalhe e também de falar com as pessoas que aparecem e nem sempre são conhecidas. Ontem, resolvi falar com o “pavão”. 


💫Fui até ele e um pouco receosa, confesso, me achando um pouco estranha, mas fui e perguntei a ele: “O que você está fazendo aqui?” E a minha surpresa foi que o mesmo respondeu imediata e prontamente, com uma clareza impressionante: “Eu vim falar com você. Fazer o que todos os outros fazem.” E o diálogo então, se deu, da seguinte forma:

K – “O que você está fazendo aqui?”

P – “Eu vim falar com você, Fazer o que todos os outros fazem.”

K – Então me diga o que tem a me dizer.

P – “A beleza está onde menos esperamos. Nos lugares mais inusitados vocês pode encontrar beleza.”

K- E essas suas penas que parecem ter olhos. Sinto como se eles estivessem todos olhando para mim e isso não é confortável.

P – Sim, são olhos mesmos e eles podem sim, estar olhando todos para você. E também podem ser seus olhos e você estar olhando para tudo em todos os ângulos que eles puderem te mostrar. Você escolhe: se quer que os olhos te olhem ou se você quer que eles sejam teus e você olhe para tudo de uma forma onde você veja mais do que está vendo.

💫Foi dessa forma que o diálogo se encerrou e fez muito sentido para mim e o que estou experienciando, nesse momento; também está relacionado com uma experiência que vivi no dia 17-10 com uma vizinha aqui e o dono da casa onde moro. Pois a vizinha não gosta dos meus gatos que vão no quintal dela e ela estava reclamando com o dono da casa sobre isso e eu ouvi e me senti muito mal com isso, pois, já estou fazendo tudo que posso para resolver, mas infelizmente ainda não consegui. Porém, sinto que é uma experiência onde poderei apreender muito a meu respeito, então, que seja assim, proveitosa e espero que para todos. 

💫A imaginação ativa no meu caso, começou quando eu era muito nova, pré-adolescente, acho, e não se deu de forma consciente. Só soube que tinha relação com imaginação ativa quando já estava formada e com alguma experiência clínica quando estudei algo sobre isso e os autores Junguianos. Não usei nenhuma técnica, apenas desde menina sou muito criativa e a hora de dormir para mim é onde sempre fantasiava algo que me era importante ou sentia que era significativo. No começo era intencional e aos poucos, conforme fui amadurecendo percebi que aquilo fazia todo sentido com aquilo que estava além do perceptível e racional. Então, comecei a prestar atenção ao que eu criava e o quanto isso tinha a ver com meus desejos infantis ou mesmo minha adolescência romântica e acabou virando uma brincadeira. Eu brincava com as cenas, construía e desconstruía do jeito que eu queria em minha imaginação e aos poucos isso ficou tão natural que não me esforço mais para criar nada. As imagens depois de um certo tempo vem, espontaneamente, quando me deito e eu fico ali, interagindo com as mesmas até adormecer. Foi e é assim também que olho para alguns aspectos meus imaturos ou alguma cena em conflito que percebo que está emergente; "crio" a cena e interajo com a mesma e seus personagens, antes só os humanos e agora, sei que também posso interagir com os animais e até objetos, quem sabe.

DESTAQUE DO SEGUNDO DIÁLOGO COM O PAVÃO: (encontro intencional)

💫Ao descer a ribanceira de um rio, era noite, o pavão ficou em cima no barranco, apenas eu desci, mas o ouvia nitidamente, lá debaixo:

K – Não é um rio é um córrego, tem galhos, barro e é escuro, mas não tem bichos como pensei que teria

P – É, às vezes, as coisas são mais assustadoras na mente do que na realidade (é preciso experienciar para saber, como saber se não viveu)

K – Caminhei durante um tempo ali, embaixo, a beira do córrego e cheguei numa espécie de barreira ou parede com barro e galhos de árvore e disse: agora não posso passar e imediatamente vi uma floresta de cipós, vários cipós emaranhados.

P – É, florestas de cipós, normalmente, são labirintos. Talvez, não seja apropriado ir por aí, agora. 

K – Decidi escavar a barreira com as mãos e sai numa espécie de bueiro voltado para cima e olhando por ali, vi um jardim holográfico e o pavão se encontrava ali, na beirada do bueiro e eu disse: ah, então está aí, não quer ficar junto da sujeira, não é?

P – Eu posso estar por aí também, porém, estarei de outra forma, se quiser. 

K – Entendi que ele estava dizendo que estaria na forma de algo feio ou monstruoso e decidi encara-lo mesmo assim. Então, desci de novo para o córrego e fiquei esperando a versão monstruosa do pavão, mas nada vi, nada apareceu. Decidi voltar e ver o que havia ali em cima e continuar o diálogo com o pavão sobre a paisagem ali de cima. Não sei porque não perguntei nada a ele sobre a outra forma dele não ter aparecido e somente agora, escrevendo é que me ocorre isso. Vou perguntar depois. Caso sinta que seja interessante, coloco aqui, a outra parte desse mesmo encontro (a paisagem refere-se a um jardim que pelo o quê o pavão informou, estou reconstruindo, aspectos meus que estão "renascendo" ou se transformando, mudando, se ampliando, enfim.)


🌹Kátia de Souza- reeditado em 06/06/2021___✏