sábado, 26 de outubro de 2019

Permita


Quando o poema bater em sua porta, 
não permita logo a sua entrada, permita que fique lá 
onde nasceu suas invenções 
Cale sua voz naquele breve recomeço de ti 
e saiba da continuidade em pleno silêncio 
É ali que mora as mágicas coerências 
embebidas em sal e mel 
É lá as palavras e os versos de ar 
É lá que se costuma ficar antes de entrar 
E quando entra, não deixa nada para trás que perturbe o externo 
É clara a água que se derrama e límpido o teu falar 
São páginas e mais páginas a se debruçar entre as mãos 
dedilhando a sua textura e tinta, sabe-se ... 
aquele velho nanquim tingindo as pontas dos dedos 
Tuas asas a colorir o mundo em pequenos gestos 
De unir teus universos calados, 
mas sussurrados entre os veios das folhas 
essas cardíacas e verdes em vórtice 
Universos ... que é nada permissivo 
quando apenas se ouviu aquele ruído 
Afinal, não é apenas de sins que se comporta a tua presença 
E pensar que tudo começou por ele, 
seu simples e tão breve bater à porta 
Sentido entre um piscar e outro 
dos olhos que não se permite, deixar de ver! 

Kátia de Souza 
26-10-2019