quinta-feira, 28 de novembro de 2019

Nem um pingo

Imagem: Arte de Adato Jacob
E o que faço com a minha fúria,
meus dentes cravados na carne imaginária,
e o  uivo estridente entre as orelhas,
isto tudo que me corrói a um passo de gritar?

E aqui e ali, ouço “nãos”!

Ah! barricadas sem escrúpulos
deixando o morno espectro da falsa bravura desabar
como se fosse meu, o recado todo
tão guardado é que o medo, de verdade é que está

Desse grito em pleno voo
De ver-me por aí
De sentir-me até as veias
Palpitando-te em cada poro
Suspirando-me enfim
Não, não vou e nem posso
Sou o verso em asas claras
Não usurpo natureza

Não, não há sufoco que me aguente
E nem pingo algum de “cale-se, silente!”
Nada conterá meu grito extremo
Esse vindo da raiz
onde mora a casa inteira
Revirada em chão e céu
Só pra te ver render ... junto a soleira
Dessa porta em nós presente
Em teu minguado azul sem véu!

Kátia de Souza
27-11-2019