segunda-feira, 15 de junho de 2020

A natureza de ser o que se é

desconheço o autor - imagem via Google
"No Ocidente, devido à ênfase,(...) sobre a dissociação homem/Deus, a agonia era interpretada como uma separação de Deus, especialmente em termos de culpa, punição e reconciliação. No Oriente, entretanto, onde permaneceu um senso de imanência da divindade em todas as coisas (embora oculto por uma compreensão errada), a interpretação era psicológica e, conseqüentemente, os meios e imagéticas de libertação têm o caráter mais de terapias alternativas do que de diretivas autoritárias de um pai sobrenatural. Em ambas as esferas, contudo. a ironia da questão está na circunstância de que precisamente aqueles que desejam e buscavam a salvação de maneira mais sincera são os mais confinados em seu empenho, já que é justamente a busca de si mesmos que está lhes causando sofrimento. Vimos que quando Buda extinguiu em si o ego, o mundo floresceu. É esse, exatamente, o modo como o mundo se apresenta àqueles para quem o espanto, e não a salvação, é religião."(Joseph Campbell - em "As máscaras de Deus")

"Gnosis, a perfeita sabedoria e iluminação, é se surpreender com todas as coisas."(Allan W. Watss, citação em "Mitologia Ocidental: Dissolução e Transformação")

"No amor, porém, em termos psíquicos, tudo é dissecado, tudo. O ego não quer que isso ocorra. No entanto, é assim que deve ser, e a pessoa provida de uma natureza profunda e selvagem é inegavelmente atraída pela tarefa." (Clarissa. P. Estés - "Mulheres que correm com os lobos")
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O que há de comum nos três pontos de vistas acima citados, aparentemente diferentes, é o que chamo também de "espanto" (usando a palavra de Joseph Campbell); é a capacidade de se surpreender com os movimentos da vida e suas consequências, no que tange a nossa experiência "nela ou como ela - vida". 

Ao mesmo tempo que descobrimos o quanto a vida é movimento constante, vamos provando ou sentindo esses movimentos em nós; transformando-nos completamente daquilo que pensávamos ser ou como nos comportávamos. Ou seja, nos espantamos conosco mesmos, com a vida em nós, se manifestando constante e continuamente. Isto quando soltamos aquilo que nos é conhecido e comodamente, é programado em nossa mente para acreditarmos que é vida ou que é o que somos. Esse soltar é o dissecar do ego, a desconstrução de ideias, conceitos, crenças em nós (na vida que pensamos ser). E nisso fica claro o quanto o ego não é também o que pensamos que ele é. O ego também é vida e junto, ele vai se integrando a toda transformação que sofremos. O que normalmente, muitos chamam de ego e implementam inúmeras estratégias para "destruí-lo", como se isso fosse possível, diz respeito, a determinadas ideias e comportamentos imaturos, primitivos em nós que nessa jornada, vai amadurecendo ou se transformando junto, integrando-se, o que é natural - Vida. 

A cada passo na desconstrução de nós mesmos(autoconsciência), vamos nos surpreendendo conosco e com o que vamos enxergando a partir disso (ampliação de consciência). E isto, por ser a vida natural, essa natureza nos impulsiona sempre a mesma condição de ampliação - desconstruir e ampliar - somos atraídos para isso, pois, essa é a natureza e se pudéssemos separar a natureza de nós, diríamos, é a nossa natureza. 

Sermos o que somos, é tão somente aceitar a vida que somos, portanto, ninguém faz isso por ninguém, cada qual descobre por si mesmo vivendo/sentindo, esse movimento em si; ninguém convence ninguém sobre nada, tão somente se vive quando em si, vê a vida se movimentando, se sente como vida e se aceita em suas nuances, pois, estas nuances são vida e infinitas. (Kátia de Souza - 15-06-2020)