terça-feira, 23 de junho de 2020

Outra face

Imagem via Pinterest
Temos saudades dos campos floridos em nós como se estes, fossem apenas miragem e não guardassem neles, também as daninhas ervas e os espinhos de certos arbustos. Temos saudades daquilo que sempre existiu em aguardo e é apenas um chamado ao nossos passos, rumo a inteireza.

Acostumamo-nos com o sentido de nos sentir pequenos, minúsculos diante de uma grandiosidade criada e cruel (criada por nós em nossa pequenez) que nos aparta e nos disseca. E tal aparte, mora nessa grandiosidade por ser esta, invejosa do amor que sentimos em sermos humanos e por isso, nos apequena. Ah tais divisões em nós que não nos permite ver que somos ali e aqui, também!  

Criamos tais formulações para contemplarmos mais e melhor nossas invenções e não nos acolher na grandiosidade que nos falta, e criamos a "não-beleza" nesse buraco, deixado aos uivos das noites em nós.

O belo que nos falta está na feiura que criamos, está no respeito a "beleza" que aguarda sua contraparte abandonada. 

O risco que se corre de se perder o conhecido e que nos coloca em certos catálogos, nos restringe a determinados lugares, é reconhecido apenas, por suas ameaças e por nos arrancar do paraíso, sem imaginar que tal lugar fora inventado por outra invenção e que tudo é, segundo aquilo que aceitamos como possibilidade e nisso, temos a condição de nos assumirmos em real presença, sermos quem somos, inteiros. Somos as partes, somos os criadores da divisão, somos o invejoso e o invejado, somos todas as invenções criadas; somos esse potencial que se realiza e a tudo transforma.

É assim que se resulta na experiência a completude, é assim que nos possibilitamos à vivência. Mas, viver tornou-se um risco. E tantos nomes foram dados, inventados àquilo que nos põe inteiro, como se perigoso, ameaçador fosse e não desconfiamos das invenções, em nós. Invenções, que tão somente servem para justificar as outras todas e que nos assegure o solitário jardim, mas "que seja eterno enquanto dure"... Triste conformismo!

O que não sabemos é que este jardim, morre lentamente em seu aguardo; assume sua outra face (morte), para ser inteiro. Esse jardim se completa em seu aguardo, aguardo daquilo que batizamos como ameaça, só para não assumirmos que nos amamos, inteiramente humanos(não assumirmos o Amor real em nós) e assim, não provocamos a inveja daquela outra invenção, de uma grandiosidade sobre humana. E morto o jardim, vivemos então a outra face(a morte), na saudosa condição de uma vida que já é e acontece, ininterruptamente - inteira em nós

Culpa, medo, terror, risco, ameaça - até quando estaremos a mercê dessas invenções e ver que nisso tudo, há apenas nós mesmos, em outra face? A face do inteiro, do divino humano que somos! Que o Amor se faça e nisso, a vida por inteiro, precisamos do matrimônio em nós, casarmo-nos conosco mesmo e é urgente! (Kátia de Souza 23/06/2020)