![]() |
Arte de Caspar David Friedrich |
Recomendamos, talvez, por ser algo que estudamos, lemos, experienciamos em nossas vidas e que "deu certo" e por isso, queremos partilhar, apontar, mostrar e/ou acreditamos que é algo que serve para todos. Mas, sabemos que nem todos são iguais, não é mesmo? E quando se vive e se sabe das condições psíquicas ou anímicas do humano, percebe-se não só como isso é verdadeiro, mas também o quanto essas diferenças, são infinitas. E que estas diferenças marcam uma unicidade que é essencial à vida em convivência. Estas diferenças, são tão presentes e tão vastas que digo que "um encontro verdadeiro, real e inteiro", é quase impossível.
Encarar essas diferenças em convivência é um grande desafio, vide todas as nossas divergências e discussões, nem sempre, tão civilizadas e nem sempre explícitas, por inúmeros motivos.
Sinto que venho aprendendo, cada vez mais que tudo que digo, digo principalmente, para mim. Ou seja, diz respeito, a certos aspectos em mim que estão de alguma forma emergindo, vindo a tona e como a escrita e leitura, é o meio, pelo qual, consigo assimilar melhor estes aspectos, então escrevo. Mas, sempre quando escrevo, desde quando a escrita se fez mais presente em minha vida, tem uma voz que diz: "cuidado com as recomendações que aparecem como: tem que..., você precisa..., é necessário..., entre outros."
Nem sempre dou muita importância a essa voz em dados momentos e onde a emoção é mais forte e certos valores em mim, falam mais alto. Então, independente da voz, escrevo, aconselho e recomendo, através da escrita, em muitos momentos. E vejo isso, por aí, espalhado e nesse agora, isso está gritando aqui dentro. Assim como, a questão sobre sermos ou estarmos tão desunidos ou separados uns dos outros, mesmo diante de uma riqueza de habilidades e potencialidades, por aí.
Estive observando alguns comportamentos meus e das pessoas que convivo, por aqui. E o que vi foi que compartimentalizamos demais nossas condutas e muitas vezes, violentando uma atitude interna que é totalmente, contrária. Em nome de uma convivência mais harmônica, muitas vezes, nos desarmonizamos internamente. E sim, é óbvio que aqui estamos vendo que esse externo, coletivo ou mesmo padrão social estabelecido, está interferindo em nossas condutas e talvez, sendo mais valorizado do que o interno, por inúmeras razões. Contudo, se apenas valorizarmos o interno, não iremos nos entender nunca, as divergências serão imensas porque como disse acima, elas são infinitas e nos encontrar inteiramente, será quase impossível. E também é óbvio que assim é, com todas essas diferenças que vamos aprendendo a ampliar certas coisas em nós, mudar nossos valores e até mesmo essas atitudes internas. Essa é talvez a grande sabedoria da vida. Uma dança entre interno e externo e toda a dinâmica psíquica (alma) que há nisso.
Bem, dito isso, gostaria de abordar o quanto estamos limitados em nossa convivência, pelo menos, nesse momento de pandemia, seja de um jeito ou de outro. A convivência, hoje, está muito diferente ou marca uma mudança considerável em nossas vidas e vejo nisso, uma grande oportunidade ou possibilidade de revendo, saber em nós sobre estas diferenças e reconhecer melhor a vasta gama de unicidades por aí. As nossas relações estão sendo marcadas por uma transformação muito significativa e nisto, nossos afetos estão em plena ebulição, nossas emoções estão sendo mexidas e sem dúvida isso vem mexendo cada vez mais com nossos valores e ideias sobre a vida e o sentido da mesma. E vejo que essas recomendações ou aconselhamentos, começam a não fazer o menor sentido mais. Pelo menos para mim, parece que os mesmos tornaram-se distantes, vazios e deixa tão claro que isso, valeu ou vale (não sei de verdade) para outros tempos ou ainda em situações específicas.
É, talvez isto, seja para mim, somente. As redes estão lotadas de aconselhamentos, diretrizes, caminhos, enfim. Eu faço parte disso, afinal, aponto a psicologia e o aprofundamento em si mesmo, como uma possibilidade de encontro com nossa espiritualidade mais verdadeira, íntegra ou legítima para si. Agora, sinto que é importante, considerarmos o que pensamos e até vivemos como verdadeiro, mas nem sempre é para o outro. Esse outro precisa começar a entrar em nossas vidas, como realmente outro, ou seja, não o conhecemos. Assim sinto.
Contudo, para mim, tem sido muito cansativo as recomendações: faça assim..., faça assado..., é por aqui...., é por ali..., tem que..., é preciso..., e por aí vai. E de novo, também faço isso e falo disso para ver se consigo esclarecer o que isso quer me dizer. Mas, venho questionando que voz é essa que precisa o tempo todo recomendar ou aconselhar algo a todos ou a nós mesmos, o tempo todo? Essa voz pode vir de diversos lugares, dentro, assim sinto. Mas, quando oprime uma originalidade, uma espontaneidade ou algo que é tão diferente em mim ou no outro em si (e não conheço o outro, com certeza) isso, não me cheira bem. Não posso negar o que vejo e sinto, as diversidades em dinâmicas psíquicas, por aí. E acho que por isso, essas recomendações, estão realmente, muito cansativas.
É, aqui é uma exposição de algo bem íntimo e que me expõe automaticamente. Porém, essa é, também, a proposta de Psiquê (página), trazer minhas reflexões, além dos estudos e contributos teóricos em Psicologia. Talvez até se caracterize como um desabafo, mas enfim, é o que consigo trazer e preciso fazê-lo escrevendo. Talvez muitos já tenham recomendações a me dar sobre isso (risos) e já chegaram inclusive a um "diagnóstico" (risos). E tudo bem, não estou dizendo que não possam fazê-lo, apenas estou expondo algo que, para mim, fala alto aqui dentro, nesse momento: "sobre as recomendações e sobre o quanto temos uma ideia, talvez, muito superficial ou ilusória de união" - ou eu tenha. E quanto as recomendações e diagnósticos, bem, amados eu sou uma rebelde mesmo ou algo assim, pois, quando vejo que estou seguindo algo que não é meu, eu faço justamente o contrário, desvio, vou embora, me afasto, para reencontrar a mim mesmo, nisso tudo. Isso tem um preço, saibam disso, mas esse é meu "jeitinho" de ser e mesmo que eu não faça isso consciente, me vi e me vejo fazendo de forma muito espontânea, então, não posso negar isso, em mim e acho importante avisar (risos).
Fiz e faço das redes (facebook e YouTube, principalmente) um meio de comunicação e trabalho, hoje, mas estou me disciplinando aqui para que isso seja algo menos vazio e cansativo e, consequentemente, mais produtivo e proveitoso, a mim primeiramente, e torcendo para que isso se reflita em minhas postagens, e então, possa contribuir de alguma forma, a outros.
E para encerrar, gostaria de dizer, para não tomarem tudo isso como algo que deva seguir ou mesmo tomar para si como verdadeiro, é sem dúvida meu, e só cabe a mim, desatar esses nós (risos). Mas, mesmo assim, agradeço a você que conseguiu ler esse textão e chegou até o fim.
E para encerrar, gostaria de dizer, para não tomarem tudo isso como algo que deva seguir ou mesmo tomar para si como verdadeiro, é sem dúvida meu, e só cabe a mim, desatar esses nós (risos). Mas, mesmo assim, agradeço a você que conseguiu ler esse textão e chegou até o fim.
Kátia de Souza - 23/05/2021