quarta-feira, 20 de outubro de 2021

Não se esqueça de você



🦋Não se esqueça de você. Porém, não esse "você" que pensas ser; não é este que concluístes por referências fora de ti, nem tão pouco aquele que te dizem ser. Estes todos, em partes é o caminho ou a ponta do laço a desfazer-se para dar-se conta do fio em continuidade. Você, talvez seja o fio, do começo ao fim. E talvez, ele esteja por nascer.


🦋Talvez este outro "você", não seja ainda; não vê, não ouve e por isso dorme e apenas recolhe o que lhe é comparável, externamente. E este é o percurso nesse agora e acorda-lo, nem sempre é caminho imperturbável. Mas para saber de um rio, é preciso atravessa-lo. Então, lembrar faz um pouco o papel de impulso, nesses passos vacilantes.


🦋Acordar, requer o fervilhar das águas, o revirar da terra, o soprar dos ventos e o alimentar das chamas. E disso o reinventar de outro elemento em ti mesmo; novo, nascido, puro e não mais inventado, recoberto, nebuloso, frágil na condição de se desfazer a qualquer sopro de dentro, dizendo-te: não, não sou você.


🦋Pra quê tanto pensar, tanto dizer? Onde estão tuas mãos, no realizar, no fazer que não apenas te revela, mas te denuncia?


🦋Onde foram parar as experiências que te envergonham, te remete a frágil segurança que te veste, mostrando-te que tuas forças estão em outro lugar?


🦋Para quê esse chão de sólidos tijolos construídos tentando encobrir as águas que te deixam à deriva? Não seria o mar que te põe perdido aquilo que realmente aproxima-se do que em ti sentes, como você? Para quê desenhar contornos ao indefinido, incerto e encoberto aos teus olhos, nesse momento? O que temes quando não vê, não controla, não pode, não define?


🦋Não consegues ver teus caminhos logo a frente porque esses grãos que preenchem tuas mãos, no agora, os mesmos escorrem devagar, silentes e por isso, aos teus "olhos adiante", estes grãos são imperceptíveis. Veja-os. Não construas na areia aquilo que parcialmente, defines como "você" ou o que pensas ver. Não, não serás porque é, agora, esse é o sempre.


🦋Revisite o teu lar e observe cada recanto, cada móvel, sinta os aromas, as cores, os adornos por ti ali deixados. Quanto disso encontra-se empoeirado e quanto de ti recebeu as mãos e no brilho revela tua presença ao cuidar? E não penses que isto seja no sentido figurado da palavra, não.


🦋Aquele que na concretude dos atos vê a si mesmo, reconhece-se também em outras dimensões. Alcance você por onde tocas, pois, teus dedos se alongam para além do que a visão consegue te dizer. Quando saíres das ideias que te fazem voar e pousares na imensidão do teu lar concreto e real como "o senhor" do mesmo, saberás que não era apenas de polaridades o que é dito, mas sim de ti, inteiro. E quem sabe nisso, poderás sentir um pouco do aroma daquilo que pode-se supor, ser você.


🦋É... lições, não se doa, se realizam. Por isso, cabe nesse agora dizer como em início recorremos ao teu olhar: não, não se esqueça de você!
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🌹Kátia de Souza - 17/10/2021___✍
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