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Arte de Karen Hollingsworth |
Dê-se um tempo, permita-se calar, ficar em silêncio, aquietar-se mesmo, sentir o momento. É muito interessante que quando falo isso, ao me ver, nem sempre presencio externamente, tal postura. E falando isso, quero dizer do quão curto ou estreito é nosso entendimento quando a ele, não se inclui a vivência.
Vejam bem, pra mim calar, silenciar, não é fechar a porta das letras, palavras, voz, fechar a porta dos gestos ou ações e esta é minha vivência frente o silenciar. Silenciar, pra mim, não diz do calar para alguém ou para o lado de fora, me isolar de qualquer experiência que me presenteio todos os dias, com quem convive comigo, um pouco dessa vida ou um pouco dessa arte, por exemplo. Calar, pra mim, diz do calar em mim e para mim. Calar para certas vozes que nos querem ouvindo e pedem que assim seja. E ouvir a quem ou o quê por dentro fala e de dentro quer escuta. É, sou esquisita mesmo, tenho manias de coisas que não vejo por dentro, falar comigo e falam, e ouço, nem sempre (o que deveria ser), mas ouço.
E o que quero dizer com tudo isso, é que sinto que essa conduta acaba por transbordar, fora. Por isso, dá a ideia de silêncio também para o outro ou para quem lá fora, convive conosco. O silêncio aparece, mesmo que não queiramos. Por incrível que pareça, venho notando que quanto mais sutil é a "conduta ou o afeto que nos toma", mais este se mostra de forma contundente em alguns momentos e/ou para alguns ouvidos ou olhos. Parece que a sutilidade usa de certos recursos que interferem, intensamente, na expressão mais densa da vida - não sei se diretamente ou por contraste, só sei que a mesma torna-se muito perceptível, quando se apresenta.
Eu não sei se são estas idas e vindas para estes momentos que vem me proporcionando olhos de ver ou ouvidos de ouvir para estas esquisitices, só sei que é assim, aqui. Por isso, reencontrar o que fora colhemos como conhecimento ou informação, trazendo para dentro, questionando, refletindo e então, agindo, é de suma importância. Afinal, o poeta fala: calar, aquietar, silenciar, mas do quê o poeta fala e para quê ou quem o mesmo sugere que assim o façamos? E como isso é para "os meus ouvidos ou a minha realidade"? Há sempre as diferenças, sempre há e nessas diferenças é que se renova uma porção bem significativa de vida. E talvez eu possa afirmar que é nessas diferenças, que também está a nossa responsabilidade em nos sabermos, únicos.
Sinto ou compreendo que no campo da palavra, o entendimento é apenas o início para o aprofundamento do todo que somos. Mas como eu disse é início, portanto estreito ou curto. Arriscar ir além, ousar reencontrarmo-nos em outras paragens, verificar se aquilo que encontramos fora, é real também em nós, talvez, quem sabe, vale o nosso esforço, no mínimo para saber o quão, infinitamente amplos, somos, talvez.
Então posso também dizer:
Concedamos um tempo a nós, silenciemos, calemos, mas façamos isso como conseguirmos e pelos motivos que em nós fala alto. Façamos do jeito que "queremos" fazer e não como entendemos que tem que ser feito ou pior, como disseram que tem que ser. Como intimamente "estou ouvindo" que posso fazer esse silêncio ou dar esse tempo? Ouçamo-nos, reflitamos e sejamos nós mesmos, nossa própria inspiração!
Kátia de Souza em 28/10/2022
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