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Imagem via CARL JUNG DEPTH PSYCHOLOGY Life, Work and Legacy of Carl Jung |
Na concepção natural primitiva a alma não é bem uma unidade, e sim um complexo múltiplo indeterminado. E de fato expressa-se nas representações, encontradas entre todos os povos, de espíritos ou almas que habitam as pessoas seja por terem se introduzido antes ou durante o nascimento ou por terem se apoderado do indivíduo em alguma outra ocasião posterior para nele exibir sua atividade. As vezes eles são considerados espíritos dos antepassados ou da tribo, outras, como os assim chamados espíritos da mata que embora pertençam a determinada pessoa, são pensados como habitando animais. Em nossas crenças populares, em mitos e contos de fadas, os gigantes e anões bons e maus, fadas e magos, e freqüentemente também os espíritos dos mortos e às vezes de animais têm um significado semelhante. Estas representações originam-se na experiência direta conhecida de cada um de que às vezes somos tomados por estados e emoções que despertam em nós impulsos, sentimentos, pensamentos e imagens que nos parecem totalmente estranhos. Freqüentemente, tais emoções são diametralmente opostas aos nossos pontos de vista ou intenções, de tal forma que dão a impressão de se tratar de manifestações de um ser com existência própria, diferente de nós. Quando Paulo diz: "O bem que eu quero, este eu não faço, mas o mal que eu não quero, este eu faço" expressando a mesma experiência, ou seja, aquela que às vezes nos faz notar em nós uma vontade estranha, que faz o contrário daquilo que nós queremos ou aprovamos. Não é necessariamente o mal o que faz essa outra vontade, pois ela pode querer o melhor, sendo sentida então como um ser superior dirigente ou inspirador, como espírito protetor ou gênio no sentido do Daimonion socrático. Freqüentemente também não se trata de algo bom ou mau, mas simplesmente de um outro diferente, que surpreendentemente faz se valer por si mesmo, com vontade e opinião próprias, dando a impressão de que se está tomado ou possuído por espíritos estranhos.
A experiência direta que também é concedida a todos, representada pela atividade do sonho e da fantasia, é uma outra fonte dessas representações. Depois que o racionalismo científico esqueceu o significado dessas coisas e a consciência do eu se apossou da totalidade da psique, novamente volta-se a requerer da psicologia médica moderna concepções que têm um parentesco surpreendente com as concepções primitivas mencionadas acima. Na verdade, teve-se que assumir que o eu consciente é apenas um aspecto da psique; pois certas aparições, especialmente na vida anímica anormal, praticamente não podem ser esclarecidas de outra maneira que não seja a existência de regiões da alma externas à consciência do eu, e que não apenas os sonhos, mas muitas outras aparições e sintomas devem ser atribuídos aos conteúdos e atividades aí existentes. Essas áreas da alma externas à consciência são reunidas sob a denominação de "Inconsciente". Pesquisadores como Janet, Flournoy, Breuer, Freud e outros apresentaram provas da existência desse inconsciente psíquico.
Mesmo a constatação de que há um inconsciente não basta, pois esse conceito expressa, antes de mais nada, só algo indeterminado e negativo. Por isso o próximo passo foi pesquisar de que modo esse inconsciente foi criado e o que continha. (Emma Jung em ANIMA E ANIMUS - "Uma contribuição ao problema do Animus") (®Psiquê - Alma e Conhecimento )