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Imagem de Kátia de Souza |
Na introdução do conto “O Cavaleiro do leão” em A Conquista Psicológica do Mal de Heinrich Zimmer, o mesmo, discorre um pouco do seu sentir sobre a importância dos contos, histórias e romances antigos. E destaco aqui, dois dos trechos da introdução(no final desse artigo). Fiquei, muito mobilizada a escrever sobre a forma como Zimmer discorre, pois, é de uma paixão, um sentimento tão nítido que não tive como ignorar. Passei a leitura adiante, pois, estou relendo o livro e retomando alguns textos, mas mesmo já adiante na leitura, algo ficou em mim dizendo: “volta lá e sente de novo, escreve, destaque, rsrs”. Enfim, e aqui estou eu, trazendo o meu sentir sobre o sentir de Zimmer, para mim, tão claro, nessa introdução.
O autor (Zimmer), fala que durante séculos, os romances da Távola Redonda encantaram a muitos na Europa e que estes, foram compostos nos séculos XII e XIII, principalmente, vindos dos antigos tesouros celtas – as “lendas de fadas, aventuras e desencantamentos, deixaram marcas profundas na consciência e no inconsciente dos descendentes daqueles que foram os primeiros a apreciá-las”.
E é dessa forma que Zimmer começa a introdução, porém deixa bem claro, que o intuito do mesmo é tão somente que “reelaboremos os velhos personagens simbólicos e suas façanhas e que eles estimulem a imaginação viva a recuperá-los, despertando a capacidade que tínhamos, em tempos antigos, de ler, com uma compreensão intuitiva, essa escrita pictórica, em outras épocas portadora do alimento espiritual de nossos antepassados.”
Compreendo nesse trecho, o quanto Zimmer, não quer que elaboremos uma técnica de interpretação que justifiquem certas condutas , não quer que nos detenhamos a compreender simbolicamente, o romance, mas sim, pretende com o conto, estimular esses personagens em nós, permitir que através, da leitura do mesmo, estimulemos nossa imaginação e deixemos vir a tona o que deles nos sobrevêm, intuitivamente. É uma interação viva e muito clara, nossa (leitor) com o autor (Zimmer), para mim, isso é mágico, fantástico mesmo – um diálogo claro, nítido e explícito, não apenas com o autor, mas com aquilo que ele nos trás de suas pesquisas e aqui, os contos antigos da Távola Redonda. E sim, sinto que somente a partir da vivência disso, poderemos compreender o que de alguma forma, esses contos, contam sobre nós mesmos, nossa história, nossos antepassados e tudo que herdamos deles e é tão presente, ainda, nesse aqui e agora.
Vejo ainda que Zimmer, tem todo um cuidado com os dados históricos e culturais, mas nesse momento, ele nos deixa livre, para explorar o que nos há de mais essencial, na condição humana, independente da cultura ou contexto histórico; ele nos incita a viver como se estivéssemos ouvindo a história – como nossos pais, avós e/ou outros faziam quando éramos crianças, para que assim, relembrando esses momentos, tenhamos a liberdade de deixar fluir naturalmente, o que a intuição for nos trazendo. É uma interação com o autor e principalmente, com o conto, trazendo de si mesmo, algo que é essencial e certamente, está relacionado ao humano – é, uma leitura terapêutica, eu diria.
Vejo ainda que Zimmer, tem todo um cuidado com os dados históricos e culturais, mas nesse momento, ele nos deixa livre, para explorar o que nos há de mais essencial, na condição humana, independente da cultura ou contexto histórico; ele nos incita a viver como se estivéssemos ouvindo a história – como nossos pais, avós e/ou outros faziam quando éramos crianças, para que assim, relembrando esses momentos, tenhamos a liberdade de deixar fluir naturalmente, o que a intuição for nos trazendo. É uma interação com o autor e principalmente, com o conto, trazendo de si mesmo, algo que é essencial e certamente, está relacionado ao humano – é, uma leitura terapêutica, eu diria.
Bem, acredito muito nisso; o quanto de nossas ações, podemos retirar o que nos é terapêutico, o quanto delas, pode-se observar e acolher sobre nós mesmos e a leitura, não é diferente. Acredito que aqui, Zimmer deixa isso muito claro, mas não escrevendo sobre isso, mas colocando o leitor na prática disso. Para mim, toda leitura é sim, terapêutica, assim como, qualquer ação nossa pode ser, desde que estejamos dispostos a estar “conosco mesmos” no auto-acolhendo em real respeito e comprometimento, estando conosco realmente e colocando em nossa ação, o que de fato é nosso.
Na leitura de qualquer obra, se prestarmos atenção em nós, se nos sentirmos, poderemos ver o quanto de “nós” em verdade, emerge. E se conseguirmos olhar para isso sem os artificies do julgamento, acolhendo apenas, teremos grande oportunidade de recolher lindo e precioso material em nós. Ali, podemos ver nossas fantasias, nossos desejos, nossas resistências se manifestando também; todo o movimento de vida que somos está emergindo durante a leitura. Agora, imaginem se nessa leitura, o próprio autor, coloca à nossa disposição um conto onde a nossa imaginação pode voar e trazer desse conto, o que há em nós em real sentimento?! Ual! Para mim, isso é maravilhoso e disso podemos retirar muito a respeito, assim sinto. Sintamos juntos. Deixo abaixo dois trechos que para mim, Zimmer trás sua paixão nesse trabalho primoroso que é este livro, saboreiem:
“As respostas aos enigmas da existência incorporadas nos contos – quer tenhamos conhecimento disso ou não – ainda conformam nosso viver.”
“No entanto, as gerações que elaboraram esses romances não são apenas nossos antepassados espirituais, mas físicos também, até certo ponto. São desconhecidos que nos habitam a medula dos ossos, quando ouvimos, eles ouvem conosco. Ao lermos, é possível que algum obscuro ego ancestral de que não temos consciência esteja acenando em aprovação ao ouvir novamente sua antiga história, regozijando-se por reconhecer o que outrora foi parte de sua sabedoria primeva. Se lhe dermos atenção, essa presença interna talvez nos ensine a ouvir, a reagir a esses romances, a compreendê-los e a dar-lhes utilização no mundo do cotidiano.”
Kátia de Souza
21-12-2019