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Imagem via Google |
Assim como a imaginação ativa e os sonhos são atributos inerentes ao ser humano, ou seja, são atributos que nasceu em nós mesmos, natural e espontaneamente, percebido e aplicado pelos alquimistas, povos primitivos e os cientistas contemporâneos, há infinitas outras manifestações dessa psique onde se pode fazer a ligação e possível integração, entre consciente e inconsciente.
Vejo isso em minha prática com algumas pessoas que estão comigo, nessa jornada de ampliação da consciência. E posso citar aqui um exemplo: Uma pessoa, a qual acompanho, já há alguns anos, tem aptidões naturais para a música, mas não vem usando essas aptidões habitualmente. Porém, após buscarmos algumas técnicas, algo que fosse a porta para esta pessoa iniciar sua jornada de forma mais profunda, eis que em sincronia, a mesma viu-se diante de lembranças e certas imagens, ao ouvir uma música de seu gosto pessoal. E a partir daí estabelecemos a técnica ou o meio pelo qual, estamos acessando esse material que vem chegando, naturalmente, à consciência - através da música. E a partir disso, estamos "explorando" e tornando consciente, com música e em diversas situações, esse material valioso, inconsciente. Veja que quem nos concedeu a porta, não foi algo consciente e presente na rotina da pessoa e sim, algo inconsciente, pois, a música é algo inerente a esta pessoa, porém, não é um hábito comum, propriamente, até o momento.
O que quero mostrar aqui é que temos as habilidades ou potenciais em nós que nos favorece a ampliação do que somos e nos concede uma vida mais plena, conscientemente falando, pois, a partir disso conseguimos lidar com aquilo que nos surge, nesta vida, de forma mais integral e ampla.
Vejam, a minha habilidade de lidar com a imaginação ativa e a interpretação dos sonhos, nasceu de forma natural e espontânea e com a prática e estudos, sem dúvida, tudo fica mais fácil e claro para manejar esse material todo que em nós, é. Assim como, nessa experiência com a música, está sendo muito mais tranquilo à pessoa lidar com seus conteúdos e complexos, diante da vida, suas experiências e convivência. Então, para mim, sinto que sempre será a pessoa que mostrará o caminho de como lidar com a psique(o ser) ali a sua frente. Não é a técnica pré-estabelecida que se encaixa naquilo que o paciente está trazendo, quando este, pretende atingir níveis mais profundos da sua alma, mas sim, ele mesmo é que mostra esse caminho.
A própria psique envolvida no processo de ampliação é que nos mostra o caminho e se estivermos atentos a isso, tudo flui naturalmente, onde a pessoa cria a partir de si mesmo o meio de intervenção nessa psique. E nisso vejo o que Jung afirma em sua prática também: "(...) assim, o que o médico faz é menos uma questão de tratamento do que de desenvolvimento das possibilidades criadoras latentes no próprio paciente".
Portanto, a minha habilidade com imaginação ativa, bem como, a interpretação dos sonhos e a habilidade dessa pessoa em acessar a si mesmo em integralidade, através da música, não é um privilégio nosso, mas sim, uma "vocação". E essa "vocação" é presente em todos nós. É como uma voz que sussurra baixinho em nós ou até alto, mas não ouvimos por estarmos focados ou colocando a frente, outras "prioridades" de nossa psique; é um chamado a nós, inerente, natural e espontâneo que sempre está ali, no que somos e se manifesta quando estamos prontos para ouvir, quando nos dispomos ao mesmo, quando ouvimos o mesmo ou quando deixamos de priorizar as investidas desse centro "egóico", unicamente, e integramo-nos como mais - "um oceano de possibilidades".
E vejam de onde vem e o que significa a palavra "vocação": "Vocação" é um substantivo feminino que vem do latim "VOCARE" que significa chamar e está relacionado a "vocatione" que quer dizer convite, apelo, chamado e em sua raiz encontramos "vox”, “vocis” - voz. E aqui, sinto que temos o importante a ser considerado: o chamado de nossa alma, a vocação que nos é inerente, o nosso talento, o ser que somos, nossa assinatura vindo se manifestar, através de habilidades ou condições concretas, trazendo nisso, a porta para que nos auto-conheçamos de forma natural e espontânea. Essa porta, não apenas nos favorece a auto-consciência, a ampliação da consciência, mas possibilita todo o respeito e sacralidade que sinto ser necessário ao abordarmos a nós mesmos, enquanto, seres infinitamente amplos e com um campo vasto ainda em nós desconhecido, não apenas de material reprimido ou recalcado, aspectos sombrios e complexos os mais diversos, mas também de inúmeros potenciais criativos que nos favorece a elaboração de tudo que experienciamos, como humanos.
Somos um oceano ou horizonte, muitas vezes, sentidos como inatingíveis, mas nessa infinitude em nós, há algo de extremamente generoso que se coloca a disposição da nossa consciência. E quando nos colocamos disponíveis a isso, ao desconhecido, da mesma forma amorosa, entramos na sintonia do saber e apreender a nós mesmos. É assim que escutamos a nós mesmos, ouvimos nossa voz, a voz do ser que somos e este é o chamado em realidade, a qual todos, sem exceção estão sujeitos, se assim se dispuserem.
Natural e espontaneamente, saiba qual é a sua vocação, o que a sua alma está dizendo sobre você mesmo, sinta-se, invista em si. Certamente, precisará passar por alguns passos até que esta voz sinta-se a vontade em se mostrar tão claramente, mas ela o fará quando sentir que em si é, esse comprometimento de ouvir-se, tão honesta e verdadeiramente. Permita-se!
(Kátia de Souza em "Um esboço de um novo tempo")