![]() |
| Imagem: edição de Arcanos da Musa |
Como é difícil ouvir aquilo que “não quer”! Aquilo que deixamos no travesseiro e melhor se for, por debaixo dele... aquilo que “não quer” – “não quer ser visto, não quer ser ouvido, não quer ser acolhido, não quer ser dito, não quer...”
Mas, como todo “não quer”, este, fica sussurrando, matreiro, suas palavras tortas, na orelha, por trás, feito uma pulga. Varremos com voz alta e gestos amplos tal inconveniência; lavamos com silêncios outros, para ver se, se cala, tal perturbação. Soltamos até os cabelos, compramos uma peruca, brincos novos, furamos as orelhas; quem sabe, tal feito nos dê distração. Mas, é no descanso que tudo “re-começa” e lá vem ela, a pulga petulante e sua verborreia.
Quisera fosse... verborreia, falácia animada e com cara, corpo e alma de “não sou nada”! Contudo, está ali, a orelha, as palavras e a bagunça feita, casa revirada...
Ouvir o “não quer” é assim, mesmo que não queira; versa-se pelos cômodos todos, aquela lembrança em voz baixa: “NÃO QUER”! E quando nos percebemos já estamos nós de novo de escudo e placa, direcionando. Mas, “não quer” não obedece a ordens, é hóspede interino, vip e requisita sempre o glamour da confissão, ao menos. É exatamente aí que ele voa e deixa o espaço vago para “não quereres”, outros, que virão. Isso é certo, virão!
(Kátia de Souza) 01/01/2020
