domingo, 12 de janeiro de 2020

Soltando o verbo

Imagem via Tumblr - desconheço a autoria
Só pra avisar , 
eu não nasci calada, 
trouxe comigo um berro 
e num tom preciso; 
conciso, de fato; 
os corpos são pequenos demais pra caber tanta “gente” 
e o grito precisava ser audível 
então, nisto, 
sintetiza-se o humano, em humano; 
e o berro, por mais que seja grito
nunca, jamais é do seu tamanho
mas, é berro
que escorre no ouvido ou nas curvas das orelhas 
para ser reconhecido
apenas os tons ressonantes 
e na recusa das dissonâncias, ficam 
o que chamam-no de “restos” 
todos os silêncios responsáveis por acolhê-las 
e nisso, um convite: 
permitir-se ir mais longe, ouvir mais fundo 
os “restos- ruídos” que silenciam 
e no silêncio, o quanto falam 

Ouve o silêncio! 

Do berro, o ouvir do inevitável 
retornar já não é escolha 
e junto, é respiração do “com-junto” 
que “co-artificia” a arte de unir-se 

E assim, só assim ...soltamos o verbo! 

(Kátia de Souza) 
11/01/2020