quinta-feira, 20 de fevereiro de 2020

ÍNFIMO OLHAR SOBRE O JULGAMENTO (por Kátia de Souza)



Imagem via Pinterest
desconheço a autoria
Talvez, tudo seja mais largo, mais profundo
Talvez, seja além, transcende ou ascende, talvez ...

Mas, se talvez não for apenas isso,
pelo menos isto, veio a ser algo dito

Permitido tudo é, quando abertos estamos
então, saibamos sobre as luzes de um olhar

Que são todas difusas e por si, abrangem 
o que nelas há de propagar

Una-se a apenas a um desses olhares
e veremos o tão pouco, ser muito, no eterno
e dessas diversidades todas, manifestando-se
na abundância que é ser, nesse agora, de estar
tão perfeitamente, humanos ...e por isso,
nada nos passa despercebido

E acolhido fica, tudo que em tudo, há!

(Kátia de Souza - 17-02-2020)
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          O julgamento é uma das formas que a mente possui de se lançar sobre qualquer evento e dessa forma, concluir algo.
                
          Somos seres racionais e buscamos razão ou explicação para tudo e quando não encontramos explicação para algumas situações, concluímos com os atributos que temos em nós, como referenciais ao externo ou dentro(sobre nós mesmos). Portanto, quanto mais inconsciente nós estamos de nós, mais a conclusão é rasa e superficial, não considerando os diversos aspectos envolvidos na situação (material, emocional, espiritual, intelectual, mental, cultural, biológico até, entre outros). E não há quem não julgue, pelo menos aqui, nesse planeta.
                
          O julgamento em si, não é o problema, como muitos dos nossos movimentos internos, mas sim, o que fazemos dele ou a partir dele; quando não temos consciência de onde este está partindo em nós, de qual instância essa condição de julgar, se origina.
                
          O julgamento está relacionado a nossa capacidade crítica também e consequentemente, analítica. Vejo isso como numa espiral onde o julgamento ocuparia a ponta básica dessa espiral, ascendendo para a capacidade crítica e consequentemente, analítica; ascendendo de acordo com o nosso nível de consciência. Portanto, o julgamento, é em nós, se pudéssemos localiza-lo, na parte mais primitiva, imatura ou ligada a condição instintiva. A medida que nos tornamos mais conscientes de nós mesmos, mais possuímos a capacidade de sair do julgamento, para a capacidade crítica e quem sabe nos aprofundarmos, através, da análise propriamente, das situações. Por isso, digo que quanto mais imaturos/inconscientes somos, mais estamos  sujeitos ao julgamento que é uma ação mental/egoica frente aos eventos da vida (dentro e fora de nós). E quanto mais maduros/conscientes somos, subimos um degrau e vamos para a crítica e a possibilidade de análise sobre o evento em questão. Lembrando sempre que esse evento ou situação é sempre dentro ou fora de nós, pois, um se espelha no outro.
                
          Analisar uma dada situação, não é tão simples, pois, implica vários aspectos da condição humana, deste que analisa, e um dos fatores determinantes para uma análise, o mais justa e precisa, é sem dúvidas a empatia. E quando aquilo que se analisa é algo que foi ou é vivido por quem analisa, fica ainda mais “fácil” adentrar a situação, compreendendo-a. Porém, a consciência sobre si mesmo, portanto a maturidade, é sempre o norte mais seguro para a devida indiferenciação na situação e assim, permitindo um olhar imparcial, considerando apenas o objeto de análise e não a “sua” opinião sobre o que está sendo analisado.
                
          Então, aqui podemos perceber que analisar, não se relaciona a opinião, não estão envolvidas as crenças deste que analisa, porém, está inevitavelmente, envolvida a condição de maturidade/experiência/consciência de quem analisa. Sair das nossas crenças, não opinar, mas sim, analisar, é ter essa capacidade de indiferenciação daquilo que está sendo analisado. É manter-se distante o suficiente, para poder ver/enxergar as várias possibilidades da situação em si; manter esse distanciamento sem as tais identificações ou o máximo possível disso, sem desconsiderar a empatia. Sendo assim, analisar determinada situação ou evento requer de nós muita disponibilidade, esforço e claro, acima de tudo, autoconsciência. Por isso, o julgamento, é mais fácil e mais rápido, pois, atende as necessidades imediatas do ego preenchendo o vazio daquilo que buscamos explicar, geralmente, apontando para um fator externo e não comprometendo quem o julga.Contudo, mesmo concluindo algo, não se explica completamente porque, dessa forma, não se tem a clareza, profundidade ou amplitude para uma conclusão justa e equilibrada.
                
          Num mundo onde padrões de conduta são ditados a todo o momento, dizendo o que você “tem que fazer”: como o homem deve se comportar, mulher, médico, filho, pai, mãe, administrador, o religioso, o terapeuta, o psicólogo, o cientista, etc. Onde os papeis e rótulos é que estão a frente ditando o seu comportamento e conduta, contar com o fator “humano” envolvido nisso tudo, nem sempre acontece. Preferimos o julgamento porque nele, não nos comprometemos, não nos implicamos; ao considerar esta humanidade, será inevitável não nos colocarmos como referência, pois, somos humanos.
                
          Diante de alguém em sofrimento é comum vê-lo chorando. Mas, também é comum ouvirmos o outro dizer: “Não chora!” Por que será?  Será que é porque a lágrima é sinal de fraqueza e não podemos ser fracos? Será que o outro não tolera a lágrima daquele que chora para não entrar em contato com a sua própria dor? Será que as lágrimas do outro lembram as suas próprias lágrimas engolidas ou sufocadas?
                
          Dor é dor. E diante da dor, se chora quando não se encontra outra forma de expressão para essa dor. Ou ainda mesmo, diante de outras formas de expressão, às vezes, a dor é tão intensa que é preciso também chorar, é preciso a lágrima lavando tudo aquilo que nos aperta.
                
          Então que possamos antes de julgar qualquer experiência, olhar para nós mesmos e ver o quanto de nós é capaz de viver e estar naquilo que julgamos. Ou ainda que possamos saber que aquilo que estamos julgando, concluindo é algo raso e superficial e não diz tudo, sobre o evento julgado. Pensemos ainda: sob quais leis estamos olhando o evento? Sob leis morais internas construídas por nós, passíveis de transformação a qualquer momento? Porque a vida, dá voltas, é dinâmica e sobre o quê desconheço em mim e fora de mim, não tenho o direito de opinar. Então, calemos sempre diante daquilo que desconhecemos e que seja um silêncio respeitoso diante da nossa própria ignorância. Não saber, é lindo quando admitimos a nós mesmos e agimos, frente a esta consciência. Compreender está além do certo e do errado que imputamos a nós mesmos e aos outros.
                
          E gostaria de encerrar com uma frase que “minha alma” respondeu a mim mesma quando eu estava julgando um comportamento em outra pessoa, aqui do meu convívio, ela me disse: “E o que você tem a ver com isso?”. É, pois é, passei algumas horas acolhendo isso e buscando em mim o que de fato, eu, tinha a ver com aquilo que eu mesma, julgava. Reflitamos!

(Kátia de Souza em 17-02-2020)