domingo, 19 de abril de 2020

Uma voz


Eu te pergunto gentilmente... por que queres me calar? De onde vem essa trama insensata em ti e aos teus ouvidos cobrir, com o que não importa ou com o que importa tão somente, a emoção que queres encobrir? Ei você, não vês que a vida se move nessa emoção também?! Não percebes que também te encontras, ali? Bem, não importa a mim, saber se sabes ou não, destas, que te habitam, é certo. Contudo, não posso me calar, não me concederam a vida a toa. Sou voz incessante a dizer-te quem és. Sou a chispa que incomoda, a cutucar teu íntimo e revelar certas faces encobertas por ti e disso mesmo, libertar. Sim, soltar as amarras que te prendem, estas, que te consomem e não queres ver. Sou eu, em ti e não outro alguém. Tenho um corpo determinado a mim, como foi dito antes. Portanto, tenho pés e ambos caminham em dois paralelos incompreensíveis ainda em sua totalidade, ambos querendo arrastar, a quem neles pisam, para as crenças, neles, determinantes. Mas, eu vi e, não posso mais deixar de ver. Vendo, percebo as intenções que nos levam a desaparecer em meio aos extremos desses paralelos e ficou dada a mim, justamente a mim que nada sou como voz, a missão de trazer esses polos distantes para perto. Como poderia dizer isso, de outro modo? Não há outro modo, somente eu e esse instante de ser, dizendo o que não pode se calar. Sei que consegues me ouvir, mas não em minha gentileza, me arrasta seja para lá ou para cá, estás aí, em seu polo sem perceber e é nesse tom que me ouves, não à mim em realidade. Vem, vem um pouco pra cá e verás com outros olhos, trará deste que te abriga, muito do que ainda é originalmente, teu. Mas, sinto em dizer e digo, gentilmente, não trará tudo a ti, mas tudo que é teu em verdade. Sabes, acostumastes às amarras e vê nas mesmas tuas saídas, porém, temporárias, são estas mesmas que te sufocam em outros tempos e sem querer admitir que vives nesses enlaces, vagueia feito alguém que nada sabe ou sabe tudo, por aí, sem ver ouvindo, mas sem dizer ou confessar a ti mesmo quem és. Bem, não posso deixar de dizer, não posso me calar e sim, por vezes, grito e em outros momentos sussurro, mas sempre estarei aqui para quando em mim, quiseres aportar o verbo da aceitação. Meu nome? Bem, como dizer algo que não se tem, podes me chamar de “você”. (Kátia de Souza)
(19-04-2020)