sábado, 6 de junho de 2020

A cara lavada

desconheço o autor da imagem, via Google
É assustador o medo de cara lavada
deixado a quarar no varal como se alva fosse sua túnica
e é branco o teu sorriso de lamúrias e revoltas
como num apelo sutil em meio ao que lhe treme nos lábios
ironias vestidas de força para não expor a covardia
denúncias aos montes desfazem as aparências
para deixar claro a cara da ilusão
e calar os ditos pequenos
esfregar os enganos e reflexos, todos eles, 
na nossa cara

cara nossa esbabacada, aturdida, 
esculpida de espanto por fardas mal lavadas
e nós aqui, brincando de soldados calados
beijando o asfalto das botas escondidas nos templos

ah se não fosse um filme!

ah se não estivéssemos dormindo 
e não fosse tudo um pesadelo,
(e naquilo que se contradiz
eu aqui sorrindo, junto-me ao que ironizo)

talvez, olhássemos pra fora com o olhar de dentro
talvez, derreteríamos a frieza dessa geleira
e conteríamos as águas nos braços do mundo
tal qual a mãe recolhe à si... o seu rebento!

(Kátia de Souza - 06/06/2020)