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| Crédito da imagem, na mesma |
entre os veios do solo, um eco, do roçar da semente
pousada entre os grãos do teu corpo
respiração lenta... é o embalar dos teus braços, mãos
que acolhe em presença, sob meu olhar,
cada pequeno gesto não visto
pouco a pouco, tua pele a recobri-la em mim
sinto o aconchego, sinto também, no ar, o apagar das luzes
e o calor do teu ventre a envolver-nos
sinto, o pulsar do que já não sei ser a parte ou diferente,
separado ou dividido... é, ouço o pulso a dizer-te em nós
em pleno silêncio e escuridão ...
(o que é isso?)
um sussurro e um farto alívio de asas que pousam
espalham-se e mostram-nos o caminho
sinos que rasgam o ar entre frestas e sombreiam o espaço,
lá vem mais um lugar, desconhecido... luz pelo caminho...
sinto, o parto iminente a irromper em fruto novo
tão calmo e forte como ensinastes
em cada movimento a mim dedicado
mostrando sem palavras, no silêncio, em nós
sentido e abarcado em cada gota de alimento
recolhido em mim, nosso corpo agora
deixando aos ares os sons, dos primeiros brotos
choro, lágrimas e sais ao descoberto para ser
dedos nossos, a apontar a direção
de mais um instante dessa eterna ”incondição”
de ser você, o nós que há tempos perdemos
e de tanto procurar, o lasso ... que nos fez retornar
o repouso, o descanso... naquilo que pensávamos não ser
e era tudo o que nunca foi esquecido ...
... toco-lhe a pele macia, tua face, em mim, semente!
Kátia de Souza
(28/12/2019)
