domingo, 26 de janeiro de 2020

Pelo gosto da experiência

Imagem via Google
Pelo gosto da experiência 

Não queira ler o "gosto da experiência"... para sabê-la, sinta, com cada personagem em si aquietado e não busque coerências na veia dos teus pensamentos, pois, eles são linhas que enredam teu saber. Caminhe devagar e sorva cada gota, dessa nossa vivência!
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Estamos em nós 
e o que é “estar”, sequer nasceu, só há “nós”, 
sem pronome algum, só “é”... 

Eis que surge, do nada, uma chispa inconveniente acendendo os olhos para os lados: direita e esquerda. E lá estão os dois, nascidos do um, em lados que se completam, na oposição que veio depois. E agora sim, estão; 

nasce o espaço porque é preciso caber na divisão, as partes; 
e aquilo que sem divisas é, permanece em silêncio, e como semente sopra apenas seus brotos. 

Vê-se mãos, braços, tronco, pernas e movimentos; 
o deslocar do vento, agora fora, a tocar a pele – brinca a criação com suas partes 
reconhece os espaços: dentro, fora, aqui e acolá; 

lá adiante e tão próximo – cumprimenta as distâncias, colaboradoras fiéis e condição dessa dança que necessita da forma, das sensações, dos movimentos em lugares e por tempo, agora, marcado em antes e depois. 

Inconveniências do ser, são sementes fecundantes que promove o gérmen do nascer e então, se rompe a casca e dela outro ser. E, a saber, eis aí todas as inconveniências risonhas a se chocarem uma a outra; 

Ser a ser se olham, se reconhecem tão iguais, se não fosse a voz, a palavra que corta as igualdades, nascidas daquele latente e misterioso espaço, não visto, compondo todas as lateralidades; duais conceitos em “formas-reflexos”, aos seres agora, distribuídos, para que nesse duo, formem toda a coreografia inovadora e estreia em novo mundo, nascido sob cada par de pés. 

Eis as crias da Criação, e esta por sua vez, permanece semente, silenciada soprando seus brotos e galhos ao vento. 

Todo movimento é dança, mesmo sem compasso ou sincronia, pois, a música é única em cada par de orelhas e por dentro, no ouvido, assume seu próprio ritmo. Como não saber disso? E não sabem, pois, na língua ainda há o gosto das semelhanças lembrando-lhes a igualdade e o mar sem divisa. 

Conta-lhes a pele tênue, sobre o sabor da saudade entregue em nostalgias; 

Um fechar de olhos e os polos desaparecem e também, todo o resto – aquieta-se a música, os gestos, os lugares e já não são mais, as partes, distantes. Eis o caminho de volta e o nascer, parido na escuridão, o desejo de retorno; tudo é ainda tão rígido e pesado, mas belo em ação e arte. 

Bendito seja o seu autor! Eis a palavra ou o verso que despedaça as partes, as moem em ínfimas criaturas; poeira invisível sendo absorvidas, atraídas agora, em asas leves; voláteis criaturas, todas elas desde os lugares, espaços, tempos, corpos e movimentos e até mesmo, os espaços não vistos e latentes dos seres, no silêncio aquietado... 

Lá se vão eles seguindo o que permaneceu silente, todo o tempo - se ali, este, existisse... 

desde o princípio era só quietude e como semente, soprava seus brotos, galhos, flores e frutos; agora, todos eles, em seus leitos, não mais repartidos, sucumbem ao que jamais era previsto. Perdidos nos vãos de si mesmos acham-se encontrados de toda espécie de letra que mata a vida em pura essência e apenas se confirma, tanto e após, o velho e perfeito gosto, da experiência.
 (Kátia de Souza em 26-01-2020)