segunda-feira, 10 de fevereiro de 2020

Benzimento

Arte de Sandro José Da Silva "As lavadeiras"
Não tarda o dia em que te vêm trazer, lágrimas
e colocar-te em branco, os dias e a fel, as noites;

mas, mas mesmo assim, não há de secar a fonte da alegria,
dos risos frouxos, da ingênua calmaria 
mesmo em dias de líderes televisivos e mundiais;

pois, sois mais, querida criança, sois mais 
e nada te abate quando a tuas renascidas manhãs, te vestem;

não, não permita que seque quarando qualquer sentimento teu,
lava-o com água doce e banha-o, cada ano, no mar
e nos braços da mãe senhora;
assim, põe úmido qualquer pensamento que possa te invadir
e nesse charco, cose todo o saber embutido nas gotas sagradas
desenhadas por sabe lá quem, mas foi ...

é assim que batizas toda a face e bendiz as ruas
que lavadas por teus choros, antes sem sentido,
desnudando cada esquina, haverá luz, cor pra todo lado
e cinza, preto, branco pra compor, no contraste, esta festa
e sem querer evitar ou deixar pra lá, nada...

...do fel permita que ele queime toda a língua,
sature-a, até não mais sabe-lo e disso, trará o mel, 
escondido em ti e das minúsculas criaturas que falam sussurrado,
silêncio maroto, jamais denunciado em tempo amargo,
mas estão lá, todas elas, a adoçar todo o passo
que se encoraja a ver-se e jamais se opor!

(Kátia de Souza)
10-02-2020