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Arte de Sandro José Da Silva "As lavadeiras" |
Não tarda o dia em que te vêm trazer, lágrimas
e colocar-te em branco, os dias e a fel, as noites;
mas, mas mesmo assim, não há de secar a fonte da alegria,
dos risos frouxos, da ingênua calmaria
mesmo em dias de líderes televisivos e mundiais;
pois, sois mais, querida criança, sois mais
e nada te abate quando a tuas renascidas manhãs, te vestem;
não, não permita que seque quarando qualquer sentimento teu,
lava-o com água doce e banha-o, cada ano, no mar
e nos braços da mãe senhora;
assim, põe úmido qualquer pensamento que possa te invadir
e nesse charco, cose todo o saber embutido nas gotas sagradas
desenhadas por sabe lá quem, mas foi ...
é assim que batizas toda a face e bendiz as ruas
que lavadas por teus choros, antes sem sentido,
desnudando cada esquina, haverá luz, cor pra todo lado
e cinza, preto, branco pra compor, no contraste, esta festa
e sem querer evitar ou deixar pra lá, nada...
...do fel permita que ele queime toda a língua,
sature-a, até não mais sabe-lo e disso, trará o mel,
escondido em ti e das minúsculas criaturas que falam sussurrado,
silêncio maroto, jamais denunciado em tempo amargo,
mas estão lá, todas elas, a adoçar todo o passo
que se encoraja a ver-se e jamais se opor!
(Kátia de Souza)
10-02-2020