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| Imagem de LIBRA SOF |
Faz tempo
que deixei de frequentar, trafegar ou ir a certos nichos e estar em contato com
certas normalidades; foi uma necessidade de ilha, mesmo. E não importa, agora,
o que tudo isso quis ou quer dizer.
Ficar ali, rodeada pelas águas e sem binóculo, foi estranho no começo. Mas, de areia, folhas e
galhos cobriram-se meus pés e então, me agradei de todas aquelas texturas e explorei
cada sentido afiando o ouvido em especial, pois, demorou, até que o mesmo,
ficasse mudo. Sim, eram muitas as bocas ao pé do ouvido. Calar uma a uma, demorou-se quase uma volta inteira contemplando o oceano - sua vontade de mar,
seu ar de sal e suas espumas de estrelas. Mas, antes de completar a volta,
deitei-me ao chão e coberta de pássaros em noite de estrelas, lua imensa e
riscos cadentes no céu, me chamou a visão.
Já viram o
silêncio? Pois é, não é corpo morto, vazio pendurado numa esquina qualquer. É
parque de infantes dançantes que beira a loucura para quem vê, é adulteza
imprevista saída do forno sem forma espalhando-se entre todos os corpos
celestes e claro, é também anciã dos tempos sem volta a ditar suas rezas e unguentos
entre a magia dos cânticos.
E foi assim
em meio ao silêncio, adormecendo instantes que esqueci e retornei para o templo
em ruínas; esquecido entre palmeiras, musgos e criaturas piedosas que se
alojaram em certos recantos decretando, ali, seu lar. É bom ter, povoado esses
espaços; a vida por si, toma conta de tudo que é sagrado.
Não, não as
expulsei, já são partes vivas daquilo tudo, apenas ergui pedra a pedra, as que
pude, junto aos escombros; deixei sempre por perto, o cálice cheio, afinal,
sede é coisa sem aviso; reorganizei as folhas, frutos caídos e certas coisas
tão próprias daquele lugar e naquele momento. É bom não esquecer que sempre,
sempre haverá vento e nisso, você, ali, a rever cada espaço se refazendo e
redescoberto.
Ah
esquecimentos é coisa boa porque nos faz lembrar!
E agora,
parto por aí novamente, às normais aventuras para colher objetos, coisa pouca
que adorne e marque os trajetos. Pois é, mas não, não vi coisa alguma a datar
de um tempo novo e no aguardo, por enquanto... no barco, em cada onda e em
mãos, lente que alcança visões externas; fico ali,
a marear sorrindo com cada palavra, gesto e pensamento, tão inteiramente
igual ao de antes da necessidade de ilha.
Se me
entristeço diante da falta de estreia? Não, de jeito nenhum! Sorrio por saber
que os caminhos são tão previsíveis, isso nos dá uma estranha sensação de um
poder guardado em algum lugar, feito tesouro escondido e marcado com um “X”, no
mapa desenhado por nossas próprias mãos.
(Kátia de Souza em ®Ensaios de um novo
tempo)
28-01-2020
