quinta-feira, 10 de junho de 2021

somos U[m]nicos

Na imagem: arte de Alexander Sviridov

✨Sim, é exatamente isso, eu vou... e vou por ali
por onde os cantos entoam um segredo por desvelar-se 
ou por compor-se naquilo que ainda "vem a ser"
e não importam mais os gemidos e sequer o eco no espaço 
por onde flagra-se os olhos espantados por ver a arte inacabada

ela vai, sim ela... a arte que em si mesmo já é o que precisa, 
se precisa, ser alguma coisa

sigo seu rastro, no faro que hoje me aproprio
e ouço o ranger de dentes como que ativados para roer-se mesmo, 
para saber-se, mas desvelar-se junto àquela 
que não veio ao mundo para brincar de ser o que não é 
e atender as expectativas de toda gente

ela brilha no breu porque tem intimidade com o mesmo, 
não se esqueceu que sua essência vem desse abraço, 
vem do dorso que lhe sustenta - a mãe esquecida
não apenas esta de braços mansos e acolhedores 
dos cartões em datas comemorativas, 
esta que também é o olhar ardendo nossas entranhas 
por guardar em si, o mistério de sempre saber 
o que se passa por dentro de nós

por isso, ela vai... 
ela já sabe a que veio e eu lhe farejo entre passos
ela se permitiu vir ao mundo assim mesmo,
em meio a tudo que não lhe era agradável 
porque sabia que não podia renovar pela manutenção do já estabelecido, 
afinal, ela é a representação da criação

nisto, veio mostrar a sua força, que não se traduz por uma qualificação, 
mas é o que é; somente ao criador cabe aquilo que dele nasce e renasce

sim, ela não fica ... ela é também movimento 
porque mesmo que sem se denunciar, fez da ação seu consorte mais íntimo 
e pôde dizer através dos seus gestos, acolhedores ou não, 
a que veio e ao que virá sempre
porque ela, ficando ou indo, é sempre esta 
que jamais se dá ao trabalho de olhar para outro lado 
a não ser para os seus próprios passos

por isso, não fujo ao meu faro, rastreio-a comigo em meus afazeres, 
em minhas dores, em meus aturdimentos, sorriso, bem aventuranças 
e tudo que por mim passa, afinal, sei dela por aí em seus segredos a nos revelar

e quem dera não caber, nisso tudo, 
aquilo que o verbo vem também revelar, 
mas cabe e é dele que sobrevêm todo o resto, 
então, estão ali diluídos, todos os temas, em todas as expressões
e nela, sem dúvida se pode ver, sentir, abrir e expandir 
para qualquer vertente, pois este é seu legado; 
trazer desse outro lado o que ficou sem dizer
ou nasceu naquele instante justamente para começar 
a ser forma, letra em sua original e ainda, substância

nela é, toda forma transportando o que desfez-se antes,
indiscriminou-se para, comendo do fruto, 
ver-se nascer em tantas faces, em mim e também em você

afinal, com ela ou ele, somos U[m]nicos!


🌹Kátia de Souza - 10/06/2021___✍
Na imagem: arte de Alexander Sviridov
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